27/09/2005

João Cordeiro e a PIDE



Em relação ao debate de ontem na RTP1, programa Prós e Contras, só me ocorre lembrar um programa que recordo ter visto enquanto criança no programa Zip Zip (fim dos anos 60).

Nessa altura Fialho Gouveia entrevistava um prestamista proprietário (casa de penhores).

Alguém da produção do programa tinha levado ao balcão da casa de penhores do entrevistado, para penhorar, um gravador de som novinho em folha. O estabelecimento avaliou o equipamento numa ninharia e foi esse o valor entregue ao pretenso dono do equipamento.

Fotocopiado o documento comprovativo da penhora, o equipamento é resgatado no dia seguinte.

Durante o programa, em directo, Fialho Gouveia pergunta ao prestamista o porquê de serem atribuídos, nas casas de penhores, valores tão baixos aos objectos penhorados. O prestamista contraria Fialho Gouveia dizendo que isso não é verdade e que, imbuído da noção que tem de estar a prestar um bom serviço à sociedade, avalia sempre os objectos por valores muito próximos do seu valor real.

Fialho Gouveia convida-o então a avaliar o mesmíssimo gravador anteriormente avaliado pela casa de penhores de que o entrevistado é proprietário. O homem avalia o equipamento por um valor aproximadamente 10x superior ao oferecido ao balcão do seu estabelecimento.

Revelada ao prestamista a fotocópia do documento obtida anteriormente ao balcão, o convidado, sentindo-se encurralado, não se coíbe de ameaçar, em directo, Fialho Gouveia (e o programa), invocando “o conhecimento de pessoas importantes” supõe-se que, directamente ou indirectamente da PIDE/DGS.

O representante da Associação Nacional de Farmácias, na pessoa de João Cordeiro, fez-me lembrar ontem o prestamista.

Como é que o homem se atreveu a ameaçar o ministro e o estado?

A cena foi tão surreal que tive por momentos a nítida impressão de ver entrar um inspector da PIDE e seus capangas para abafar o impertinente ministro comunista (qualidade que João Cordeiro não se coibiu de insinuar).

… eles andam aí …


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